Tenho recebido muitos emails e visto muitos posts no Facebook com relatos desencorajadores onde os personagens reais são gatos portadores de FIV e FeLV.
Fico horrorizada com a disseminação de informações erradas e com a condenação à morte de seres indefesos sem sequer uma chance de tratamento. Isso quando não são renegados ao quartinho de empregada ou ao banheirinho sem uso do quintal.
Compartilho este email, recebido em fevereiro deste ano.
Tirem suas conclusões!
MEU AMIGO AMARELO
Meu nome é Renato Velasco, sou fotógrafo e artista plástico.
Uma noite, estava saindo do meu atelier, em Laranjeiras, quando vi um gato branco com manchas amarelas. Ele veio em minha direção como se fosse meu conhecido, ficou roçando nas minhas pernas e miando, mas quando reparei, ele era pele e osso, todo sujo e com uma grande massa vermelha saindo pela boca.
Fiquei chocado com a situação daquele animal, peguei-o no colo, voltei para o atelier, peguei uma casinha de transporte, coloquei-o dentro e fui direto para uma clínica veterinária que fica ali perto.
Chegando lá, fui fazer a ficha dele: Nome? Olhei para ele pelo buraco da casinha e vi seus dois imensos olhos amarelos. Respondi “Amarelo”, acabei de batizá-lo, idade? ..... Fiquei duas horas e meia para ser atendido mas, enfim, subi com ele.
A veterinária ficou horrorizada com a situação do bichano, sugeriu que ele ficasse internado no soro, porque estava desidratado, colheu sangue para exames, e sugeriu que fosse feito também o teste FIV/FeLV.
Fui concordando com tudo que ela dizia, mesmo sem saber direito. Ela pediu que ligasse no dia seguinte, pois teria o atendimento de uma médica especializada em boca para ter um diagnóstico definitivo.
No dia seguinte, comecei a ligar às 11h, conforme ela disse, mas nada, liguei de hora em hora e não tinham ainda nada para me dizer. Ás 15h fui lá para ver o que estava acontecendo, esperei um pouco e fui atendido pela veterinária da véspera e pela dita especialista em boca.
Eu via nos olhares delas uma descrença enorme com relação ao Amarelo, mas o bichano, apesar de todo seu estado acabado, tinha uma enorme vontade de viver.
Aí vieram as conclusões: “Ele está com um tumor que se espalhou por toda sua boca e garganta, ele é FIV e não vejo muita chance para ele, acho que uma cirurgia seria muito difícil nas condições dele, sugiro que seja feita uma eutanásia". Meus olhos se encheram de lágrimas, olhei para o Amarelo, ele olhava para mim e miava pedindo “me tira daqui”. Foi realmente o que eu entendi naquele miado. Então vi que era isso que eu tinha que fazer. Pedi que elas o colocassem na casinha e fechassem a conta; pedi também um relatório de tudo que tinha sido feito lá.
Saí da clínica sem saber para onde ir ou o que fazer. Liguei para a veterinária que atende meus gatos. Contei a história e ela me falou da clínica Gatos & Gatos, em Botafogo. Ela não sabia o nome da rua, mas me passou as coordenadas para chegar lá. Aí ela disse: "Fica num casarão amarelo!” Olhei para o Amarelo e falei: “Amigo, senti um vento a nosso favor, vamos conhecer esse tal casarão amarelo”.
Chegamos lá e fomos atendidos rapidamente, pois falei que era uma emergência. Fomos para um pré-atendimento com duas estagiárias que pesaram o Amarelo - ele estava pesando 2,700kg - e aí aconteceu uma coisa muito engraçada: elas abriram uma latinha de A/D e chegaram perto dele com uma colherinha para dar aos poucos, mas ele atacou a latinha e comeu-a em segundos, não sobrou nada. Aparentemente não deram nada para ele comer na outra clínica, foi a nossa conclusão.
A veterinária Adriana Neves chegou, começou a examiná-lo e viu os exames que tinham sido feitos.
Ela pegou um livro e me mostrou várias fotos de bichos com aquelas inflamações na boca, mas nenhuma delas chegava perto das que estavam na boca do Amarelo. E deu o diagnóstico: “Ele está com uma gengivite crônica, que tomou os dois lados e parte da garganta; não são tumores, porque tumores não se alastram assim”.
Havia sim um grande trabalho a ser feito, e deixou bem claro que também haveria riscos, até mesmo por ele ser FIV e estar muito debilitado. Mas uma esperança estava no ar. Ela prescreveu vários remédios, aplicou algumas injeções e disse que ele poderia ser tratado em casa, porque era desnecessária uma internação, além de ser muito cara. Na receita, ela colocou também o nome e o telefone da Sílvia, do Grupo Recomeço, que poderia me ajudar com os medicamentos.
Assumi assim cuidar do Amarelo. Levei-o para meu atelier, preparando uma verdadeira enfermaria. Liguei imediatamente para a Sílvia, que me recebeu com muito carinho e presteza, marcando para conversarmos e começarmos o tratamento dele. Encontramo-nos no dia seguinte, quando ela já levou os medicamentos e se ofereceu para me ajudar. Ela ficou com ele nos finais de semana seguintes, porque eu estava trabalhando fora do Rio, me ajudou a aplicar as injeções, ofereceu seus gatos para transfusão de sangue, sempre mimando o “bebê”, que é como ela chama o Amarelo.
Realmente foi e está sendo uma grande luta. Ele ficou duas semanas sendo preparado para poder fazer a cirurgia. Finalmente, no dia 11/02 ele foi operado, uma cirurgia de alto risco. No dia anterior, ele tinha recebido uma transfusão do gato Nano (resgate do Recomeço para adoção), mas mesmo assim, no meio da cirurgia me ligaram da veterinária e disseram que ele estava com muita hemorragia e que teria que fazer mais uma transfusão com urgência. Liguei imediatamente para a Sílvia e fui correndo pegar mais dois gatos para levar e ver qual deles era compatível e transfundir. Ela separou o Pantera, que tinha ido no dia anterior, mas não foi preciso, e mais o Francisquinho, um lindo e enorme gato amarelo. Foi ele que salvou a vida do Amarelo. Depois de quase 4 horas, a cirurgia acabou e ele estava bem.
Agora ele está se recuperando rapidamente. Desde que começou o tratamento na Gatos&Gatos já engordou 650g e não pára de comer.
Depois desse sufoco todo, onde não medi esforços no tratamento do meu amigo Amarelo, me vi enfiado em dívidas. Não me arrependo de cada centavo gasto ou que venha a ser gasto com ele. Está sendo muito recompensador vê-lo recuperar-se e tornar-se um lindo gato.
Renato Velasco