domingo, 9 de outubro de 2011

Tratar animais de estimação como se fossem seres humanos não é bom para nenhum dos dois lados. Na maioria dos casos, essa prática deixa o animal muito mimado e o dono muito dependente.

petrede cachorro vestido de gente Humanização dos animais deve ser evitada


Certos exageros, como passar esmalte, perfume e outros produtos químicos, também devem ser evitados a todo custo. “Isso é a morte para os animais porque eles têm um olfato muito apurado e sofrem muito com todos esses cheiros”, afirma o professor Stelio Pacca Loureiro Luna, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, especialista em bem-estar animal.

Segundo ele, nem tudo o que é bom e agradável para o ser humano é também para o bicho. “O animal tem de ser respeitado como tal”, recomenda.

Para o ambientalista e cuidador de animais, Marco Ciampi, presidente da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal (Arca Brasil), são exageros que muito pouco atendem à natureza dos animais. “O animal precisa ter como referência outro de sua espécie, não o ser humano. Muitos sofrem crise de personalidade. Cachorrinhos de madame, que fica só no colo, quando chega perto de outro animal, ele rejeita, não quer nem ficar perto”, comenta.

Ciampi explica que, por esses motivos, a associação sempre recomenda que o animal tenha a companhia de pelo menos mais um da sua espécie dentro da residência. “Ele precisa se sentir um animal”, afirma.

De acordo com o professor Stelio, a ideia de tornar o animal humanizado tem sido adotada com muita frequência pelos donos. Como consequência, tem sido muito frequente também alguns efeitos colaterais.

“É interessante observar que o animal está acompanhando todos os problemas que o ser humano apresenta, como depressão, ansiedade, neuroses. Isso está acontecendo numa taxa cada vez mais alarmante, por conta dessa humanização do animal”, observa ele.

Segundo o professor, o importante nessa relação é que os humanos saibam que suas atitudes trazem consequências. “Da mesma forma que nós mimamos os filhos dando tudo a eles, o mesmo ocorre com os animais”, adverte. Stelio diz que dependendo do grau de intimidade, o animal pode ficar agressivo quando vê o dono ou a dona com um namorado ou namorada nova.

De acordo com a psicóloga Maria José Barbosa, tratar um animal como se fosse uma pessoa pode ser um indicativo de que algo não está bem. Pode ser uma carência emocional grave, que precisa ser tratada.

“O animal não precisa disso (ser humanizado). É algo totalmente avesso à natureza dele”, afirma ela. Segundo a psicóloga, o contato com um animal é saudável para o ser humano, mas cada um no seu canto. “Não devemos misturar as coisas. A natureza humana é diferente da natureza animal. Cada um deve viver em seu habitat natural. Isso tem de ser respeitado”, orienta.

Para Maria José, desde que a relação esteja dentro da normalidade, o humano tem muito o que aprender com os animais. Basta observar com atenção o comportamento deles. “Eles respeitam a natureza, têm hora para dormir, para comer, para se recolher, avisam os demais quando o perigo se aproxima”, enumera. Na opinião dela, todos deveriam ter um animal em casa para aprender com eles.

Inseparáveis
Treze anos e meio de convivência diária. Assim tem sido desde que o chiuaua Teddy, então com apenas um mês de vida, entrou pela primeira vez na casa de Maria Cavalcanti de Araújo, 79 anos. Na verdade, o cãozinho foi um presente para a filha Soraia, oferecido pelo então namorado dela.

Teddy veio de Caxias do Sul e de cara conquistou o coração da mãe e da filha. Tornou-se um novo membro da família. Toda vez que viajam, levam o cãozinho junto. Maria é quem passa mais tempo com o animal. Como a filha trabalha, cabe a ela cuidar dele o dia todo.

Mas isso não é nenhum sacrifício. A mãe adora animais. Sempre gostou. “Desde pequena, sempre convivi com cães. Meu pai tinha vários. Ele gostava de caçar”, conta Maria. Por causa do apego aos bichinhos, quando eles morrem, a tristeza faz com que ela diga a si mesma que não terá outro animal em casa.

“É muito triste. É como se morresse uma pessoa da família”, compara. “Mas, não tem jeito. A gente sempre pega outro”, comenta. Maria sabe que Teddy não tem muito mais tempo de vida. A idade avançada dele e os problemas de coração e de pulmão que o cão enfrenta faz com que ela considere a possibilidade de perdê-lo em breve.

Mas, por enquanto, essa é apenas uma possibilidade. Enquanto isso, ela aproveita para passear na companhia do animal. São quatro passeios diários pelas redondezas do prédio onde mora, no bairro Higienópolis.

E os passeios têm hora marcada. O primeiro ocorre por volta das 7h. O segundo às 11h, depois às 17h e o último às 21h. Com isso, já fez amizade com vários moradores da vizinhança.