quinta-feira, 24 de março de 2011

Diabetes em animais de estimação

Por Barbara Bezerra
Sociedade Brasileira de Diabetes - SBD


foto: AAA Clipart. 

O diagnóstico do diabetes em cães e gatos vem se tornando cada vez mais comum e já não causa tanta estranheza. Com sintomas semelhantes aos dos seres humanos, os animais com diabetes costumam apresentar a doença já idosos, entre 8 e 12 anos.

No entanto, acredita-se que a expectativa de vida desses animais – desde que ele não seja diagnosticado em estágio muito avançado do diabetes - seja a mesma de um animal normal.

Não há estatísticas brasileiras para cães e gatos com diabetes. Normalmente, a referência está nos estudos americanos. “A incidência do diabetes em cães e gatos é menor do que a dos seres humanos. Segundo um estudo americano, é de 0,002%, mas tem aumentado nas últimas décadas. Isso é explicado pela maior expectativa de vida dos animais e também pelo aumento da incidência de obesidade”, explica o médico veterinário Ricardo Duarte, Prof. de Clínica Médica de Pequenos Animais do Creupi-SP e Doutorando em Clínica Veterinária pela USP. Entre as causas do diabetes em animais de estimação estão relacionadas: o fator hereditário, um organismo debilitado, pancreatite e fatores de resistência à insulina, entre eles a obesidade.

Diagnósticos em Cães e Gatos
As manifestações do diabetes são semelhantes em todas as espécies. A diferença no diagnóstico de cães e gatos está na forma como cada animal expressa os sintomas. Os sintomas mais comuns são: o aumento do volume da urina, ingestão de água e emagrecimento. No entanto, alguns animais podem ter o apetite aumentado, o que nem sempre é visto com maus olhos pelos proprietários. “Curiosamente, boa parte dos cães diabéticos são diagnosticados quando procuram o veterinário por causa do surgimento de catarata, que não é um sintoma inicial do diabetes. Gatos diabéticos geralmente não desenvolvem a catarata, mas a neuropatia diabética, que pode causar dor e dificuldade para andar”, explica o veterinário.


                                             Foto: Ricardo Duarte - SBD 
Carolina, Pinscher, note o olho com catarata e o outro operado.


Tipo do Diabetes e Teste de Glicemia
“A etiologia do diabetes não está bem estabelecida em pequenos animais. Por ocasião do diagnóstico, a maioria dos cães diabéticos têm pouca produção de insulina. Acredita-se que entre 90 e 95% dos gatos diabéticos têm uma doença semelhante ao diabetes tipo 2 dos seres humanos”, esclarece o veterinário Ricardo.

Para a medição da glicemia em animais, normalmente usa-se monitores portáteis para seres humanos. “Diferente dos seres humanos, na clínica utilizamos sangue venoso ao invés do sangue capilar. Por isso é importante saber se o aparelho que será usado é válido para uso em animais. Recentemente concluímos uma pesquisa para avaliar duas marcas comuns de glicosímetros para o uso em cães”, afirma Dr. Duarte.

Perfil de Cães com Diabetes
Entre os cães, as raças com mais predisposição ao diabetes são poodle e schnauzers. Vale ressaltar que o diabetes é mais comum em cadelas do que em machos e que, segundo o Dr. Duarte, em um dos últimos levantamentos a respeito a relação entre machos e fêmeas era de 5 para 1. Os cães são tratados à base de insulina e, uma vez diagnosticados, dependem dela para o resto de suas vidas, ou seja, são insulinodependentes. A insulina do cão é idêntica à dos suínos e difere apenas em um aminoácido da insulina humana.

Anna Maria Narcise, administradora de empresas e dona da poodle toy Minnie Scarlet, descobriu o diabetes em sua cadela aos 10 anos de idade, depois de uma cirurgia de catarata mal sucedida. “Ela passou a tomar corticóides depois da cirurgia e após quarenta dias de medicação, sem comer ou beber, em pele e osso, ela foi diagnosticada com diabetes medicamentosa “, afirma Narcise. Hoje, Minnie toma aplicações de insulina duas vezes ao dia, usa 60 injeções por mês, faz exercícios e tem alimentação balanceada, inclusive com ração especial. “Ela come cenoura no vapor, pouco sal, nenhum açúcar e frutas em pouca quantidade. O diabetes não tirou o apetite de Minnie, que faz uma festa quando eu chego em casa porque sabe que vai comer”, completa.


                                           Foto: Ricardo Duarte - SBD
coleta de sangue capilar da região interna da orelha, usando uma lanceta especial.

Os Felinos
A única raça, entre os gatos, predisposta a desenvolver o diabetes é o Sagrado da Birmânia e a maior incidência da doença está entre os machos castrados, talvez decorrente da obesidade. Os gatos, normalmente, têm diabetes tipo 2 e são tratados com hipoglicemiantes orais ou até mesmo com uma dieta – e, como ocorre entre os seres humanos, eles também podem necessitar de aplicações de insulina. A insulina do gato é mais parecida com a bovina e dá-se preferência a utilização da insulina mista em gatos (80% bovina). “As insulinas humanas funcionam bem, sem provocar a formação de anticorpos. Já usamos também insulinas pré-misturadas (NPH/R) em alguns pacientes e análogos da insulina (as ultra-rápidas) no hospital para controle rápido da glicemia”, explica o veterinário. Atualmente, os animais com diabetes contam até mesmo com rações especiais.

Comprometimento com o Animal
É preciso que haja um comprometimento do dono, porque disso depende o sucesso do tratamento e da melhora da qualidade de vida do animal. É de vital importância saber que ele não pode permanecer sozinho, já que o tratamento insulínico é para sempre.

Pioneirismo Canino
O primeiro ser vivo a receber a insulina e o seu organismo responder de forma positiva foi a cadela Marjorie. Em outubro de 1921, o cirurgião canadense Frederick Banting e o seu colaborador, o estudante de medicina Charles Best, realizaram várias experiências no laboratório de Mac Leod, em Toronto, com cães como cobaias, a fim de isolar uma substância capaz de eliminar os sintomas do diabetes. Na oportunidade, os cães tinham os seus pâncreas retirados para a produção do extrato de insulina. Banting e Best descobriram que, ao injetar o extrato em cães diabéticos, as taxas de açúcar no sangue chegavam aos níveis normais.


Barbara Bezerra
Sociedade Brasileira de Diabetes - SBD

http://www.diabetes.org.br/