segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Quando é a hora de dizer adeus?


Uma das questões mais difíceis do cotidiano veterinário é a eutanásia. O ato que é permitido por lei afim de que se minimize o sofrimento de um animal causa muita polêmica.

A grande maioria de nós veterinários não recebe na faculdade treinamento psicológico para enfrentar este momento e poder ajudar o tutor e a si mesmo passar por um momento tão difícil, porém em muitos casos imprescindível.

Logo no início de minha carreira eu costumava sentir calafrios quando percebia que a morte se aproximava de um paciente e tentava negociar com São Francisco alguns anos de minha vida para que aquele bigodinho se recuperasse e ficasse mais alguns dias com sua família. Creio que isto ocorresse não apenas pelo meu amor e respeito incondicional a vida dos bichinhos, mas porque de certa forma eu também não estava preparada para a perda.

Quase na iminência de desistir da minha vocação por não aguentar o sofrimento assisti a uma palestra que mudou minha vida. Nascer, crescer, reproduzir, se necessário, e morrer são processos fisiológicos e inerentes à todo ser vivo. O que não é fisiológico é a dor e o sofrimento. Cada sofrimento é único e individual e deve ser respeitado e cuidado da melhor forma possível. Nós veterinários lidamos com dois sofrimentos: o do tutor e o do paciente e isto ajuda a montar uma estatística assombrosa; nossa profissão tem alto índice de suicidio.

É muito difícil para nós praticarmos a eutanásia, não é um procedimento que nos causa alegria como um parto ou prazer como ver a recuperação de um paciente que estava muito debilitado e não conseguia nem se alimentar sozinho.

Nossa conduta para indicar a eutanásia é baseada em evidências científicas de que aquele paciente não responde a nenhuma terapia existente e seu sofrimento está além do que poderia suportar, sendo que esta situação de desconforto não irá beneficia-lo ou trazer melhora. A eutanásia deve ser vista como um ato de misericórdia e amor maior por um amigo peludo que nos deu tanto amor.

Os bichinhos são nossos companheiros e é preciso respeitar o luto que sentimos quando na ocasião da sua perda igualmente a que fazemos quando perdemos um ser humano. Pessoas e animais ocupam o mesmo lugar em nosso coração, não havendo diferenças de dor quando falamos em amor incondicional que é o que recebemos quando temos um amigo bigodinho.

Rochana Rodrigues Fett


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Nascida em Esteio, Rochana Rodrigues Fett é apaixonada por gatos desde sempre – seu primeiro gato nasceu quando ela mesma tinha quatro dias de idade. Filha única, sempre dizia que queria transformar os gatos em seus irmãos. Começou a faculdade de veterinária, quando sua vida mudou no quarto semestre. “Foi quando vi uma palestra com a Dra. Heloísa Justen, da clínica Gatos & Gatos, e me decidi a trabalhar só com isso. As outras matérias eu estudava pra passar. Quando me formei, fui trabalhar numa clínica que atendia cachorros e gatos, e o vet de lá me deu um livro sobre cachorros, falando que eu não sabia nada sobre eles. Hoje, ele me liga para pedir ajuda sobre gatos”, ri ela. Médica veterinária formada pela UFRGS em 2004, Mestre em Ciências Veterinárias pela UFRGS em 2007, e com aperfeiçoamento em Medicina de Felinos pela EQUALIS em 2008. Rochana também possui Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos pelo Qualitas, em 2012, e Aperfeiçoamento em Clínica Médica de Felinos pelo Cat Cursos em 2014. Desde 2007, atua exclusivamente atendendo felinos, e é apaixonada pelo tema. Rochana emociona-se ao falar da afinidade com felinos: “Eu amo bigodinho, ronrons, pancinhas, bafinho, cheirinho de pé de gato, eu acho ainda que eles são anjos na terra, não é possível existirem criaturas tão puras assim”


Fonte: vetdegatos.com.br