Belíssimo artigo da Kika, leiam e reflitam.
Vivam, através destas sábias palavras, a realidade que vive o protetor TODOS OS DIAS!
Olá amigos,
Hoje vamos falar de um assunto um pouco polêmico. Os pedidos de resgate e abrigo para animais.
Com o emplacamento do facebook e a grande divulgação aumentaram consideravelmente os pedidos de ajuda para animais abandonados nas ruas das cidades.
As pessoas acreditam que tirá-los das ruas e colocá-los num abrigo é a solução para que não passem fome ou corram riscos nas ruas. Mas em muitos casos isso está errado.
Isso depende muito do abrigo para os quais os animais são levados e mesmo assim um abrigo sempre é um local onde os animais podem correr mais risco do que ficando onde está, além da grande maioria já estar lotada e sobrecarregada.
Por melhor que seja a estrutura do abrigo (e manter um abrigo com qualidade demanda bastante dinheiro), se já foi resgatado algum dia um animal com uma virose altamente contagiosa (parvovírose, cinomose ou panleucopenia), o animal que chega já corre perigo caso não esteja vacinado, o que é muito comum nos animais que estão abandonados. Isso sem falar na disputa de território, que principalmente no caso de cães pode chegar à morte. Ou é um abrigo onde os cães ficam presos em correntes ou baias pequenas, o que é aceitável como qualidade de vida apenas para aqueles que vão ficar pouco tempo até encontrarem um lar, ou se convivem em um espaço maior é preciso ter cuidado com as brigas por território e a cada um novo animal que chega isso pode se agravar.
Também temos as outras doenças, como a FeLV, que exige um teste caro, a PIF que não tem teste conclusivo, a esporotricose, que é altamente transmissível, etc. Ou seja, o novo animal pode ser levado para um local mais perigoso do que onde estava. Ou se o animal resgatado não puder ser colocado numa quarentena confiável até serem afastadas todas as hipóteses de doenças contagiosas, pode colocar todos os outros abrigados em risco.
Todo abrigo sério precisa ter um limite, pois precisa conseguir alimentar os animais sob seus cuidados, precisa manter a higiene contratando funcionários, precisa dar atendimento veterinário e precisa comprar as medicações necessárias para aqueles que lá se encontram. Além de precisar ter um espaço digno para os animais que estão lá, sem amontoar todos.
Infelizmente não dá para dar conta de todos que são abandonados. Esse problema só vai ser resolvido com a educação massiva da população e a esterilização dos animais.
Vamos ilustrar com um caso onde todos tiveram a maior boa vontade de salvar uma filhote que realmente precisava de socorro. Entraram em contato conosco pedindo ajuda para uma gatinha que estava com uma ferida muito feia, provavelmente esporotricose, e por isso havia sido abandonada nas ruas. Essa é uma zoonose e essa gatinha não podia mesmo continuar nas ruas e sem o tratamento. A pessoa não tinha nenhuma experiência com gatos.
Respondemos prontamente no mesmo dia e acionamos uma colaboradora que podia buscar a gatinha para nos entregar.Mas a pessoa que a resgatou, desconhecendo o problema dos abrigos e com vontade de ajudar, já no dia seguinte levou a gatinha para o abrigo mais conhecido aqui do RJ, para onde infelizmente são levados todos os animais salvos pelos bombeiros, etc. Lá existem milhares de animais, milhares, que chegam e são abandonados na porta nas mais diversas condições de saúde. E com isso todas as doenças estão no ar. A gatinha ficou isolada, a nossa colaboradora entrou em contato e combinou de buscar a gatinha de volta, pois havia inclusive conseguido um lar temporário.
Assim foi feito e a gatinha seguiu para o lar temporário, onde haviam alguns outros bebês para serem doados. Bebês que foram resgatados com dias de vida, mamaram em mamadeira e sobreviveram bravamente com os cuidados dedicados da pessoa que cuidava deles. Já estavam fora de perigo, e seu destino seria um lar em breve.
Mas a gatinha que estava com aparência saudável, somente precisava se tratar da esporotricose, faleceu dias depois.
Passaram mais alguns dias e muitos dos filhotes também acabaram falecendo. Bastou um dia em um abrigo onde chegam diversos animais todos os dias e várias vidas foram sacrificadas. Pegaram a panleucopenia, uma virose que passa pelo ar, mesmo que os animais estejam em cômodos separados.
Todos ficamos arrasados, todos queríamos o bem desses filhotes, mas é preciso alertar que um gesto de boa vontade pode causar uma tragédia se a pessoa não tiver conhecimento.
Os animais da 4Patinhas são adultos, idosos, recuperados de doenças, alguns tem doenças crônicas e muitos não são de fácil adoção. Por conta disso tomamos muito cuidado com sua saúde e nossos resgates atualmente são bem limitados. Precisamos primeiramente nos estruturar para mantermos financeiramente 100% dos animais já abrigados, doar alguns e então poder expandir nossos cuidados. Se não conseguirmos atingir a meta de manter com a dignidade que merecem os atuais abrigados em nossa sede, como podemos continuar ajudando aos próximos que precisarem? Mas o que queremos primordialmente é construir um centro de esterilização para contribuir eficazmente com essa questão do abandono.
Quando se resgata um gato ou um cão, é preciso diagnosticar através de exames (alguns caros) se ele tem alguma doença contagiosa que possa passar para os animais existentes antes que sejam colocados em contato.
Abrigos ou ONG's na sua maioria dependem da doação de pessoas como vocês para sobreviverem, não recebem nenhuma ajuda vultuosa de governo ou outras entidades. Podemos conseguir desconto em alguns veterinários, mas não são gratuitos. Por isso cada pequena doação mensal é importante para nós, pois assim podemos melhorar cada vez mais a ajuda a aqueles que precisam e da maneira correta.
Mas procure ver se o abrigo que você ajuda é condizente com o que você acredita, pois não é bom colaborar em tornar a vida do animal abrigado um inferno na terra ou financiar sua morte.
Não é simples como somente tirar da rua aquele animal. Precisa-se pensar na segurança dos que já estão no local.
O ideal é que cada pessoa que deseja resgatar um animal, o leve ao veterinário, faça todos os exames possíveis, e tente dar ou encontrar um lar temporário antes de pensar em um abrigo. E primordialmente que esterilize esse animal, pois assim estará realmente contribuindo para a diminuição do abandono nas ruas.
Christianne Duarte
presidente da Associação 4Patinhas